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A Póvoa de Santa Iria e a HyChem partilham uma história comum, que merece ser contada. Ambas evoluíram ao longo dos últimos 90 anos, para atingirem as posições de relevo que hoje detêm na região e no contexto económico e social do país.

As origens das marinhas de sal, extintas na segunda metade do século passado, após terem constituído a principal riqueza da Póvoa, perdem-se na memória dos tempos. Certo é, porém, que achados arqueológicos de artefactos pré-históricos datam do Paleolítico; que importantes vestígios romanos levam a admitir a navegação no Tejo e a ocupação humana da zona; e que as referências à exploração de salinas recuam aos tempos da I Dinastia.

O Morgado da Póvoa, que se desenvolveu a partir da Quinta da Piedade, floresceu com a extração de sal das águas do Tejo e inúmeras famílias ganharam o seu pão na dura atividade salineira, que séculos a fio pautou a vida numa extensa faixa ribeirinha.

A agricultura (vinhas, olivais, cultivo de cereais no mouchão), a pesca, os transportes fluviais e o trabalho nas salinas e telhais ocuparam os habitantes da Póvoa de D. Martinho, sétimo senhor feudal de quem a localidade tomou o nome, durante mais de três séculos.

A indústria, mesmo assim, implantou-se cedo. Após a inauguração do primeiro troço de caminho de ferro (1856), entre Lisboa e o Carregado, instalou-se, em 1867, a Fábrica da Póvoa (adubos químicos) e, em 1877, a Companhia de Moagens de Santa Iria (moagem de cereais), o que muito contribuiu, com o subsequente desenvolvimento da Soda Póvoa, para o caráter marcadamente industrial que o lugar viria a assumir.

Ao tempo da instalação de uma fabriqueta de carbonato de soda na Póvoa de Santa Iria, esta não passava de uma aldeola de poucas casas. Não havia energia elétrica, nem igreja, nem farmácia e água canalizada só no chafariz. O centro era o ponto de junção entre a estrada nacional, que atravessava a povoação, e a estação ferroviária.

Mas essa fábrica, um conjunto de construções assentes em estacaria de pinho verde, frequentemente inundadas pelas cheias do Tejo, onde se produzia uma soda encarniçada, também não era grande coisa.

 

Era uma vez um navio…

Tudo principiou por altura da I Guerra Mundial, ou melhor, um pouco antes desta ter eclodido, em 1914. Um país da América do Sul encomendou na Alemanha o equipamento necessário à instalação de uma pequena fábrica de carbonato de soda, pelo processo Solvay do amoníaco, o único aplicado então no Mundo e que tinha substituído o processo Leblanc.

À época, a tecnologia do processo estava nas mãos da sociedade belga Solvay et Cie., das suas filiais e de alguns associados. E o segredo estava tão bem guardado, que o construtor alemão das máquinas encomendadas teve de recorrer à única documentação a que teve acesso. Foi assim que, baseando-se no Tratado de A. Schreil (de 1905), construiu aparelhos então já ultrapassados.

Quando o navio alemão, que transportava os equipamentos com destino à América do Sul, entrou nas águas do Atlântico, deflagrou o Conflito Mundial. Para não ser tomado pelos ingleses, o navio refugiou-se no Tejo, acabando por ser apreendido pela Marinha portuguesa, quando o nosso país entrou na Guerra.

Portugal viveu uma grande escassez de carbonato de sódio e de soda cáustica durante a I Grande Guerra. Foi, possivelmente, essa falta de produtos que fez com que algumas pessoas se lembrassem dessa maquinaria, que tinha ficado por cá. Entre elas, contava-se um cidadão francês, R. Touzet, que resolveu adquirir os equipamentos e montar a fábrica na Póvoa de Santa Iria.

Era a “Velha Fábrica”, cuja construção terá ficado concluída pelos anos 1920. E desses edifícios ainda subsiste, nalguns locais, a estacaria de pinho verde, conservada até hoje pela água salgada existente no subsolo.

Finalmente… Soda!

Os promotores do empreendimento não foram bem sucedidos. A maquinaria alemã era obsoleta e quem se encontrava à frente dela não conhecia o processo de fabrico, nem dispunha de aconselhamento, pelo que não tardou que a fábrica se imobilizasse.

No início da década de 1930, o diretor da Companhia Industrial Portuguesa (CIP), Lopes Raimundo, também professor de Química Industrial no Instituto Superior Técnico, pensou que poderia pôr a fábrica a trabalhar.

A CIP adquiriu, então, a sociedade e dos primeiros ensaios resultaram algumas toneladas de carbonato de sódio. De péssima qualidade, é verdade, mas era Soda! E isso foi bastante para despertar a atenção de Manuel Santos Mendonça e da sua representada em Portugal, a Solvay et Cie.

Coincidindo com a sua expansão pela Europa, a Solvay sentiu que era tempo de intervir e de estar presente, também, em Portugal. Em junho de 1934, dois representantes da Solvay – Philippe Aubertin e o Barão Gendebien – fecham um acordo com os representantes da CIP tendente à constituição de uma nova sociedade, comprometendo-se a Solvay a diminuir o custo industrial e a atingir uma produção anual de 6000 toneladas de carbonato de sódio.

No dia 20 de setembro de 1934, nasce, então, a Soda Póvoa, com um capital social de 500 mil escudos. A escritura pública de constituição da empresa foi lavrada no 12º Cartório Notarial de Lisboa, situado na Rua de S. Julião, e os Estatutos publicados no Diário do Governo – III Série, de 22 de setembro.

Já em agosto desse ano, havia chegado a Portugal, com a família, o Eng. Clément Dumoulin, que viria a assumir a direção da Fábrica e tornar-se o principal pioneiro da sua expansão.

Um casamento feliz

A nova sociedade adotou a designação Soda Póvoa, por uma razão óbvia: casar o nome do produto a fabricar (Soda Solvay) com o nome do lugar onde a fábrica se instalara (Póvoa de Santa Iria).

Em inícios de 1934, a Soda Póvoa toma, efetivamente, posse das instalações fabris e principia a epopeia da Empresa.

A começo, muitas dificuldades: rejeição de amoníaco por todos os lados, destilação entupida de seis em seis horas, desmoronamento do forno de cal, e até a explosão, no dia de Natal de 1934, da última das velhas caldeiras, o que provocou uma paragem total da Fábrica.

Mas, em poucos meses, montam-se novas caldeiras, introduzem-se modificações indispensáveis nos equipamentos e inicia-se a verdadeira produção, atingindo-se já em 1938 o objetivo da capacidade anual de 6000 toneladas.

Em 1935, a produção anual fora de apenas 925 toneladas de carbonato de sódio, enquanto em 1939 ascenderia já às 7104 toneladas.

A qualidade da primeira Soda produzida pela Fábrica, quando a Solvay lhe deitou a mão, nos princípios dos anos 30, era péssima. O teor dessas primeiras toneladas era baixo em carbonato, excessivo em sal e especialmente em ferro, o que lhe conferia uma tonalidade encarniçada. No entanto, era Soda!

Vinte anos sem lucros

Renascida com a modernização da fabricação de carbonato de sódio e o lançamento da fábrica eletrolítica, em março de 1938, para a produção de lixívia cáustica, hipoclorito de sódio e cloreto de cal, a Soda Póvoa vê-se obrigada, apenas seis anos decorridos sobre a sua criação, a “nadar” sozinha.

Alguns meses depois de ter deflagrado a II Guerra Mundial, ocorre um corte forçado nas relações com a sede em Bruxelas, suspendendo-se assim, na prática, a ajuda, especialmente técnica, que a “mãe” transmitia à sua “filha” portuguesa.

A partir de maio de 1940, momento em que o relacionamento foi interrompido, a Fábrica deixou também de poder abastecer-se junto dos seus fornecedores habituais, com exceção da Suíça, Grã-Bretanha (apesar de muito diminuída) e Espanha (arruinada pela Guerra Civil de 1936-39).

Contudo, as maiores ameaças também podem revelar-se oportunidades: a I Guerra trouxe até Portugal o equipamento inicial e a ideia de o aproveitar; a II obrigou a Fábrica a passar da adolescência à maioridade.

O que, entretanto, poucos saberão é que, durante anos, os lucros foram nulos, registando-se até resultados negativos, por dois motivos principais: as baixas produções, limitadas aos consumos do país; e os preços condicionados pelo Governo, que, para combater a inflação, muito dificilmente autorizava aumentos.

Só nos anos 50 se atingiu o equilíbrio nos resultados, aparecendo uma certa rendibilidade. A partir de então, a cronologia é muito rica e o mérito tem de ser creditado às pessoas, o ativo mais precioso.

Cronologia (principais realizações)

1922 – Construção por R. Touzet de uma instalação para a produção de carbonato de sódio.

1934 – Aquisição pelo grupo Solvay, com a constituição da Soda Póvoa, SARL, subsidiária da sociedade Solvay & Cie.

1938 – Montagem e arranque da primeira eletrólise de sal do país, passando a Empresa a produzir, também, lixívia cáustica eletrolítica, cloreto de cal e hipoclorito de sódio.

1940 – Início da produção de silicato de sódio e de ácido clorídrico.

1942 – Início da exploração da Pedreira de Vialonga.

1945 – Início da fabricação de cloro líquido.

1957 – Início do abastecimento da Fábrica em sal, sob a forma de salmoura, através de uma conduta com origem nas sondagens de sal-gema em Matacães (Torres Vedras).

1963 – Entrada ao serviço da instalação de produção de bicarbonato de sódio.

1966 – Arranque da instalação de produção de carbonato de sódio denso.

1967 – Arranque da fabricação de clorato de sódio e da produção de sal refinado.

1974 – Investimento no aumento de capacidade da fábrica de carbonato de sódio.

1975 – Arranque das novas fábricas de peróxido de hidrogénio e de perborato de sódio, da Interox Portuguesa.

1976 – Entrada ao serviço de uma nova conduta ligando Matacães à Póvoa, com redução do percurso.

1982 – Entrada em funcionamento da nova instalação de hipoclorito de sódio.

1984 – Ampliação para o dobro da capacidade de produção de clorato de sódio.

1986 – Entrada ao serviço de uma instalação de desmercurização. Fornecimento de hidrogénio à sociedade Ar Líquido.

1988 – Mudança da designação Soda Póvoa para Solvay Portugal - Produtos Químicos, SA.

1990 – Entrada ao serviço de células de membrana na eletrólise do cloro.

1992 – Construção de uma ponte sobre a linha férrea, para acesso direto dos camiões. Arranque da nova instalação de produção de ácido clorídrico.

1993 – Solvay Portugal e Solvay Interox subscrevem o programa voluntário Atuação Responsável® promovido em Portugal pela associação das empresas químicas.

1996 – Certificação pelo IPQ do sistema de garantia da qualidade para a soda densa. Primeiras jornadas “Portas Abertas” dedicadas à comunidade vizinha.

1998 – Paragem da eletrólise a mercúrio, desmercurização, cloro líquido e cloreto de cal.

1999 – Inauguração das novas instalações do Laboratório.

2002 – Arranque de uma central de cogeração a gás natural explorada pela Energin. Paragem na produção de perborato de sódio, por motivos de mercado.

2003 – Solvay Portugal e Solvay Interox recebem a certificação do seu Sistema de Gestão da Qualidade segundo os requisitos da Norma Internacional ISO 9001:2000.

2006 – Instalação de uma nova unidade de desmineralização de água, por osmose inversa.

2007 – Entrada ao serviço de dois novos grupos de destilação na fabricação de carbonato de sódio. Duplicação da capacidade de produção de bicarbonato de sódio.

2008 – As instalações da Solvay Portugal e Solvay Interox recebem a Licença Ambiental de Prevenção e Controlo Integrados da Poluição.

2014 – Reestruturação das atividades, por razões de competitividade e de mercado, com encerramento, desmontagem e demolição das construções das unidades de produtos sódicos e clorados. 

Aquisição pela ALGORA

No fim do primeiro trimestre de 2021, iniciou-se um novo ciclo na história da Empresa, marcado por uma ambição renovada e pelo lançamento de novos projetos de construção do futuro.

Concretizou-se a operação de aquisição da Solvay Portugal, que vinha sendo negociada entre o seu novo acionista, a ALGORA, e o grupo Solvay, e que tinha sido anunciada em setembro de 2020, por ocasião da assinatura do respetivo contrato de compra e venda de ações. A 31 de março de 2021, a ALGORA tomou o controlo da Solvay Portugal e esta sociedade mudou o seu nome para HyChem - Produtos Químicos, SA.

A ALGORA Sustainable Investments, SGPS, SA – nova acionista de controlo da HyChem – é uma sociedade holding constituída em joint venture entre:

  • a A4F SGPS - holding de grupo de empresas de biotecnologia, com relevantes atividades de R&D, especialistas no fornecimento de tecnologia para a produção de algas, na instalação de unidades de produção de macro e microalgas, visando sequestrar CO2 e utilizar os efluentes da indústria, e também no desenvolvimento de tecnologias e processos de fermentação de microrganismos;
  • e a Green Aqua - holding de grupo de empresas especializado no investimento em unidades de produção e biorrefinação de macro e microalgas e outros produtos de base biológica.

Ambos estes grupos associados na ALGORA têm capitais exclusivamente portugueses e sede efetiva em Portugal.

Na mesma ocasião, foi alterada a composição dos órgãos sociais, tendo uma nova Administração e um novo Fiscal Único sido designados pelos novos acionistas.

O acordo assinado em março de 2021 incidiu sobre a aquisição da totalidade das ações representativas do capital social da Solvay Portugal. Mais tarde, em dezembro do mesmo ano, a HyChem alterou a sua designação para HyChem, Química Sustentável, SA, tornando-se esta mudança um marco importante na estratégia da Empresa.

À data da aquisição das ações, os principais ativos da Empresa eram a unidade de produção de Clorato de Sódio e Hidrogénio, todo o parque industrial de Póvoa de Santa Iria, e a mina de Sal em Torres Vedras e respetiva concessão.

Na sequência da aquisição, os novos acionistas mantiveram todos os postos de trabalho e todas as pessoas que integravam a Empresa, com as quais contam para executar uma nova estratégia de crescimento, assente em princípios de sustentabilidade.

A nova Administração decidiu afetar as atividades relacionadas com a área administrativa e serviços de apoio, nomeadamente pessoal, serviços financeiros e sistemas de informação, à empresa de Serviços Partilhados pertencente ao universo dos novos acionistas – Assergest, Lda.

Da mesma forma, a aquisição impôs uma alteração no modelo comercial da Empresa, até aí exclusivamente a cargo da estrutura corporativa do grupo Solvay, que concentrava a aquisição dos produtos da Empresa e os comercializava junto dos clientes finais. Em consequência, a nova Administração assumiu diretamente a gestão da atividade comercial e a HyChem começou a comercializar diretamente os seus produtos.

 

Olhando pelo retrovisor, ficamos impressionados com o caminho que a Póvoa de Santa Iria e a HyChem percorreram juntas.

A primeira, uma povoação humilde, foi elevada, em menos de um século, a freguesia (1916), a vila (1985) e a cidade (1999), tendo hoje mais de 30 mil habitantes.

A segunda teve uma infância problemática, mas cresceu e, ao atingir a maioridade, tornou-se uma fonte de riqueza para o concelho de Vila Franca de Xira e um apoio incontornável ao desenvolvimento de numerosas indústrias portuguesas.

Com os nossos colaboradores, os nossos clientes e fornecedores, os decisores públicos e os reguladores, e com a sociedade civil e a comunidade vizinha, de olhos postos na geração de valor partilhado, estamos decididos a enfrentar os desafios e a construir um futuro sustentável.